terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Você quer ser o que você é?


Você é feliz e quer ser rico. Você é rico e quer ser feliz.
Você é linda e quer ser magra. Você é magra e quer ser linda.
Você é alta e o garoto por quem está apaixonada não alcança o seu ombro. Você é baixa e até sua havaiana é de salto.
Você é liberal e têm pais conservadores. Você é conservador filho de um casal gay.
Você não gosta de animais e vive na fazenda. Você mora no centro da cidade e é autista.
Você é mulher e quer ser homem. Você é homem e quer ser mulher.
Você morreu antes de nascer. Você nasceu e não quer viver.
Você é brasileiro e quer morar no exterior. Você é mulçumana querendo ser brasileira.
Você reclama que não tem talento, mas têm um bom emprego. Você é talentoso mas falta oportunidade.
Você tem 10 anos, mas queria ter 15. Você está doente e lhe restam cinco anos de vida.
Você sofre de insônia. Você tem sono, mas não tem onde dormir.
Você é amado e não ama. Você ama e não é amado.
Você reclama da música alta. Você nunca soube o que é ouvir.
Você não sabe por que não tem. Você tem e não sabe por que.


São dois vocês. Um indo, um vindo, o isso, o aquilo. Opostos em desejos.
É difícil o que se é e o que se quer ser coincidirem. Ser completamente realizado com o que se tem, querer exatamente o que se pode ter, visitar onde se pode entrar, namorar quem se pode amar, comer o que tem pra comer, vestir o que tem no seu guarda-roupa, ter a idade que se tem, ser filho de quem você é, fazer o que gostamos e podemos fazer, ver mais o que está aos nossos olhos que a nossa imaginação, sonhar com o que não se pode ver, conversar com quem tá perto, presentear mais que ser presenteado, fazer o curso porque se quer, não por que a média foi suficiente, tentar mais para conseguir mais, dormir menos, viver mais, amar mais, amar o que vale a pena ser amado, não andar quando se quer correr, não correr quando se quer andar, não ficar parado quando se quer dançar, não dançar quando se quer ficar parado, dizer mais o que se pensa, falar menos sem pensar, falar mais com os olhos que com a boca, abraçar quando der vontade de abraçar, gritar quando der vontade de gritar, ser livre.

Quando não queremos ser o que não somos, queremos ser mais que o que já somos. Vivemos buscando intensificar mais uma qualidade, ganhar o que se quer e não se pode ter, minimizar um defeito, ser igual a alguém, ser melhor que alguém. Tentamos tanto o mais e o melhor que as vezes curtimos menos o que já se tem, esquecemos de nos conhecer, de saber quem somos, quais são nossos valores. Passamos a saber exatamente o que gostaríamos de ser, onde iremos chegar, quantos filhos queremos ter, com que tipo de pessoa queremos nos casar, qual o valor do salário que queremos ganhar, em que cidade iremos morar... Sabe-se mais do futuro que do presente?  Planejamos mais o faremos amanhã e nos perguntamos menos ao que vamos fazer agora. Não é questão de conformar-se com o que se é, de estacionar, é questão de saber o valor do que se tem antes de seguir adiante e mudar pra melhor e pra você.
Sei pouco do presente, mas ainda assim sei ainda menos do meu futuro. Não significa que eu não tenha planos, que não saiba o que eu quero ser, com quem quero está, significa que aceito a condição de ser o que eu sou, saber do que eu sei, viver a vida que me pertence de um jeito que me faz achar que sou incrivelmente feliz. Sei que quando achei que não amava foi que comecei amar. Sei que não registro muitos momentos em papeis e fotos para que quando o meu futuro se tornar presente eu não compare as felicidades. E você, sabe de que?