segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Um dia ruim



Quando chega em casa, põe a chave na mesa ao lado dos sorrisos, tira a roupa e pendura no cabide, entra no chuveiro e lava o cabelo como quem lava a alma. E vive as horas do dia em minutos. E chora o tanto que sorriu durante todo o dia. Enxuga os cabelos e o rosto, e acalma o mundo que estava tentando sair pela garganta. Veste o pijama, pensa nos prazos, responde os e-mails, repensa o trabalho, olha o relógio, programa o despertador. Deita na cama e se cobre no cobertor quente. Olha a parede branca e decepcionante. Como a vida agora.  Os olhos cerrados com sono e pensamentos como uma Roleta Russa que roda e roda . E você adormece antes de ver o resultado. O toque do despertador abre seus olhos que continuam com sono. Tira o pijama ainda dormindo e a água acorda o corpo. E se veste fazendo a agenda do dia. Olha a janela enquanto toma o café como quem bebe esperança. Pega a chave em cima da mesa, coloca de volta o sorriso. Fecha a porta como se nada tivesse acontecido. Da bom dia ao porteiro. Sente o vento dizer que tudo passa. E vai.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

À um amigo passarinho





Eu que acompanhei o seu esforço, lembro com carinho da sua vontade de voar. Via você fechar os olhos, e em silêncio imaginar como seria sentir o vento batendo,o coração flutuando e uma sensação de paz que não é possível explicar. Algumas vezes você nos passava uma impressão de que não conseguia se encaixar,sempre com um sorriso no rosto, um abraço carinhoso, um caminhão de amigos, e alguma coisa faltando para completar. 
Um pequeno texto de um e-mail marcou a data do seu primeiro voo, a partir daí o sorriso, o abraço e os amigos eram os mesmo, mas você não era, nada mais faltava,você tinha achado seu lugar. 
Amigo passarinho, você que não tem dono, e nunca terá. Aproveite esse seu primeiro voo, porque ele é só para começar. Daí de cima, veja melhor como as coisas são aqui em baixo, sinta o cheiro dos nossos abraços, já que a distância não permite abraçar. 
Amigo passarinho, quando se sentir sozinho, sorria para um estranho, faça um novo amigo, conte a ele sobre os antigos, ensine a ele como voar.
E amigo passarinho, voe olhando para as ruas, mande para mim uma fotografia que mais pareça um poema, já que você  me conhece e sabe que um bom verso, pra mim,é o que encurta a saudade. 

Até a próxima carta. Um abraço cheio de silêncio e compreensão. 

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Bem querer

Imagem: Panoramio


Vontade é euforia que dá e passa
E de tanto ir, me levou com ela 
Fui ser feliz numa pracinha que não existe 
Mas a grama é verde 
E o cheiro é bom 

Dia desses eu convidei a vontade pra ficar
Diz ela que a felicidade não iria deixar
Se escondeu dos meus olhos, vontade traioçeira
O tempo correu, esqueci de lembrar
Vontade passageira

Um cheiro de café 
Doce de limão 
Tirar fruta do pé 
Descer no corrimão 

Vem vontade, me levar com você
Que se eu for, eu não volto mais 
Saudade, diz pra ela vir me ver
Que do mundo só restou a minha TV. 


terça-feira, 23 de abril de 2013

Desconexo



Imagem: Allison Torneros



Indignados os que não sabem, ou que sabem o que melhor seria não saber
Milhões os que têm certezas absolutas, inabaláveis, absurdas 
A vida é bela, a gente que não deve ser
Desligue a TV e abra a janela
O silêncio é o argumento dos humildes
A dúvida, o dos sábios
O que separa a fé da crença é o ideal 
O que separa o bom do mal é a referência
O que separa o preto do branco é a luz 
O que separa o fim e o começo é a vontade
O que separa existir e viver é a intensidade
Intensifique. 


sábado, 19 de novembro de 2011

Brisa da tarde em uma praia qualquer.



Um jogo de frescobol, um casal e um cachorro
Três ondas quebrando, um veleiro flutuando
Sete desenhos apagados na areia
O nome de duas pessoas em um coração
Um castelo de areia afrontando a água salgada ainda distante
Olhos que se fecham pra ouvir melhor      
O cabelo que se assanha sem incomodar
Os pés enterrados em areia úmida
Uma criança pulando o mar como se competisse com as ondas
Um casal de idosos que pensa que aquela pode ser a última tarde
Um senhor com uma rede sem peixes
Uma varanda com um filtro dos sonhos
Um bebê, uma pá e sua primeira piscina
Alguém que caminha observando as pegadas
O mar cantando, as pessoas deixando de ouvir
O sol descendo como quem não que ir
O céu azul, depois vermelho, depois roxo e então escuro.
Sem crianças, nem velhinhos
Alguns casais, uma lua sorridente, o mar de espelho
A paz
A liberdade
Mais uma brisa
E eu. 

sábado, 22 de outubro de 2011

Carta sem remetente.

Oi estranho, senti sua falta hoje. Saudade daquele abraço apertado que você nunca me deu, das nossas conversas em lanches que nunca aconteceram, da gente cantando junto alguma música que ainda não foi lançada.
Ontem eu tive vontade de te ligar. Teria ligado se tivesse o seu número. Pensei ter ouvido a sua voz me contando alguma besteira, enquanto eu admirava você sorrindo. A imagem era meio embaçada porque minha mente ainda está concluindo como será seu sorriso. Mas do som da sua risada que eu nunca ouvi eu lembro bem.
Acho que sonhei com você esses dias, sonhos bons... Não consigo recordar nitidamente todos eles, porque seu rosto nunca apareceu em nenhum deles. Mas eu lembro que em um deles eu senti você colocar meu cabelo pra trás. Acho que você toca violão, porque seus dedos me arranharam um pouquinho e isso fez com que eu me arrepiasse.
Ando compartilhando o meu dia com a brisa da tarde, esperando que ela sussurre pra você, como quando a gente jogou telefone sem fio naquele dia 30 de fevereiro.
 Sei que parece loucura, mas meu coração acelera por alguém que não existe.  
Preciso acordar agora, até mais. 

domingo, 19 de junho de 2011

Vi e escrevi


Eu li: "Escute, mas não acredite. Beije, mas não se apegue. Olhe, mas não se apaixone. Se jogue, mas não se machuque."
Me pergunto se vale a pena agir de forma tão superficial de maneira que você nunca conhece a consequência de cada ato realizado por você mesmo. Acho que isso é a definição de uma felicidade que talvez seja eterna, porém, nunca intensa.
Leia e seja lido, entenda e deixe-se entender, cante e ouça uma canção, abrace e permita-se ser abraçado. Viver com o medo da intensidade que é errar, aprender e concertar é o mesmo que entrar na chuva pra não se molhar.
Pense nisso ou não.